Introdução

O mundo do mercado financeiro está repleto de desafios e oportunidades. Porém, para realmente se destacar e ser bem-sucedido como trader, não basta apenas dominar técnicas e estratégias. O aspecto mental é tão crucial quanto qualquer ferramenta técnica que você possa utilizar. Mark Douglas, em seu renomado livro “Trading in The Zone”, aborda justamente a importância da mentalidade correta ao operar no mercado. E neste artigo, vamos mergulhar no capítulo 1 deste incrível audiobook, agora disponível em português.


Trading in The Zone – Capítulo 1

O caminho para o sucesso: Análise fundamental, análise técnica ou análise mental?

No princípio: a análise fundamental

Quem se lembra do tempo em que a análise fundamental era con- siderada a única forma fidedigna para tomar decisões de trading? Quando iniciei a minha atividade em 1978, a análise técnica era usada por um número reduzido de traders, que eram considerados pelo resto da comunidade do mercado como sendo, no mínimo, loucos. Por muito difícil que hoje possa parecer, não foi há muito tempo que os principais fundos de investimento e instituições financeiras pensavam que a análise técnica era uma forma de embuste.

Hoje em dia, claro, o oposto é a verdade. Quase todos os traders experientes usam algum tipo de análise técnica para os ajudar a for- mular as suas estratégias de trading. Com exceção de alguns peque- nos grupos isolados na comunidade académica, o analista puramente fundamental está praticamente extinto. O que causou esta mudança drástica?

Tenho a certeza de que não será surpresa para ninguém se a res- posta a esta pergunta for muito simples. Dinheiro! O problema de tomar decisões de trading de um ponto de vista estritamente funda- mental é a dificuldade de ganhar dinheiro consistentemente dessa forma.

Para quem esteja menos familiarizado com a análise fundamental , podemos dizer que esta tenta levar em consideração todas as variáveis que podem afetar o equilíbrio relativo entre a oferta e a procura de um qualquer título, produto ou instrumento financeiro. Usando principalmente modelos matemáticos que ponderam a importância de uma variedade de fatores (taxas de juro, balanços, padrões meteo- rológicos e outros), o analista projeta o valor de um título num deter- minado momento no futuro.

O problema com estes modelos é que raramente – ou nunca incluem outros traders como variáveis. São as pessoas, ao exprimir as suas convicções e expectativas sobre o futuro, que influenciam os movimentos de preços e não os modelos. O facto de um modelo fazer uma projeção lógica e razoável com base nas variáveis relevantes, não tem muito valor se os traders não forem considerados como parte relevante na maior parte das transações, não estiverem envolvidos no modelo, não o conhecerem ou não acreditarem nele.

De facto, muitos traders, especialmente os que negoceiam futuros e que têm a capacidade de incutir variações significativas nos preços num sentido ou noutro, normalmente não têm a mais pálida ideia dos fatores fundamentais da oferta e da procura que supostamente afetam os preços. Além disso, num dado momento, muita da sua ativi- dade de trading é estimulada pela resposta a fatores emocionais que estão completamente fora dos parâmetros do modelo fundamental. Por outras palavras, as pessoas que transacionam (e consequente- mente influenciam o movimento de preços) nem sempre agem de uma maneira racional.

Em última análise, o analista fundamental pode determinar a posição lógica de um preço num dado momento no futuro. Mas, entretanto, o movimento dos preços pode ser tão volátil que é muito difícil, se não impossíve,l manter uma posição aberta capaz de atingir esse preço teórico.

A mudança para a análise técnica

A análise técnica existe desde que existem mercados organizados sob a forma de bolsas de valores. Mas a comunidade de trading não aceitou a análise técnica como uma ferramenta viável para ganhar dinheiro até finais da década de 70 ou início da década de 80.

Um número limitado de traders participa nos mercados num determinado dia, semana ou mês. Muito s destes traders agem da mesma forma na tentativa de ganharem dinheiro. Ou seja, as pessoas desenvolvem os seus padrões de comportamento e um grupo de pessoas, interagindo umas com as outras, formam padrões de comportamento coletivos. Estes padrões de comportamento cole- tivos são observáveis e quantificáveis e repetem-se com uma certa fiabilidade estatística.

A análise técnica é um método que organiza este comportamento coletivo em padrões observáveis que indicam, com maior ou menor grau de clareza, quando há uma maior probabilidade de um determinado movimento ocorrer em vez de outro. Num certo sentido, a análise técnica permite chegar ao cérebro do mercado para antecipar o que é provável acontecer a seguir, com base no tipo de padrões que o mercado gerou em momentos anteriores.

Como método para projetar movimentos futuros de preços, a análise técnica revelou-se muito mais viável do que uma abordagem puramente fundamental. Mantém o trader concentrado naquilo que o mercado está a fazer agora em relação àquilo que fez no passado, em vez de se concentrar naquilo que o mercado deveria estar a fazer apenas com base naquilo que é lógico e razoável, conforme é determinado por um modelo matemático. Por outro lado, a análise fundamental cria aquilo a que chamo uma distância da realidade entre o que devia ser e o que é. A distância da realidade torna extremamente difícil fazer algo mais que não sejam previsões de longo prazo que podem ser difíceis de explorar, mesmo que estejam corretas.

Pelo contrário , a análise técnica não só anula esta distância da realidade, como também disponibiliza ao trader um número praticamente ilimitado de possibilidades de tirar dela proveito . A abordagem técnica abre muito mais hipóteses porque identifica o modo como os mesmos padrões de comportamento repetidos ocorrem em qualquer intervalo de tempo – momento-a-momento, diariamente, semanalmente, anualmente e em qualquer outro lapso temporal. Por outras palavras, a análise técnica transforma o mercado num fluxo interminável de oportunidades de ganharmos dinheiro.

A mudança para a análise mental

Se na análise técnica funciona tão bem, porque é que cada vez mais a comunidade de trading desvia a sua atenção para a análise mental, isto é, para a psicologia individual do trading? Para responder a esta pergunta, não é preciso mais do que perguntar a si mesmo porque decidiu comprar este livro. A razão mais provável é que não está satis- feito com a diferença entre o que ganha efetivamente no mercado e aquilo que sente que poderia ganhar.

Esse é o problema com a análise técnica se lhe quisermos chamar problema. Quando aprendemos a identificar padrões e a ler o merca- do, descobrimos que há imensas oportunidades para ganhar dinheiro. Mas, como penso que saiba também, pode haver uma enorme discrepância entre aquilo que sabemos sobre os mercados e a nossa capacidade para transformar esse conhecimento em ganhos sustentados ou numa curva de resultados crescente.

Pense em quantas vezes olhou para uma tabela de cotações e disse para si mesmo, parece-me que o mercado vai subir (ou descer, conforme o caso) e aconteceu de facto. Mas não fez nada a não ser observar o mercado a valorizar-se enquanto se angustiava ao perceber o dinheiro que poderia ter ganho.

Há uma grande diferença entre a previsão de que algo vai acon- tecer no mercado (e pensar em todo o dinheiro que se poderia ter ganho) e o gesto de abrir ou fechar uma posição. Chamo a esta diferença, e a outras similares, distância psicológica, que pode fazer do trading um dos desafios mais difíceis e, certamente, um dos mais misteriosos de dominar.

A grande questão é: poderá o trading ser dominado? Será possível encarar o trading com a mesma facilidade e simplicidade com que observamos o mercado e pensamos no sucesso ou no fracasso de abrir e fechar posições? Não só a resposta é um sim inequívoco, mas também esse é o propósito deste livro: fazer com que nos compreendamos a nós próprios e à natureza do trading; fazer com que seja tão fácil, simples e tranquilo agir no mercado como quando estamos simplesmente a observá-lo e a pensar agir.

Isto pode parecer um propósito absurdo e para algumas pessoas pode mesmo parecer impossível. Mas não é. Há pessoas que dominaram a arte do trading, que anularam a distância entre o resultado possível e o resultado obtido. Mas naturalmente, estes ganhadores são relativamente poucos quando comparados com a grande quantidade de traders que experimentam estados de frustração e exasperação, interrogando-se porque não conseguem realizar deforma consistente os ganhos que tanto desejam.

De facto, as diferenças entre estes dois grupos de traders (os ganhadores consistentes e os outros) são análogas às diferenças entre a Terra e a Lua. A Terra e a Lua são ambos corpos celestes que existem no mesmo sistema solar, pelo que têm algo em comum. Mas têm naturezas e características tão diferentes como o dia e a noite. Pela mesma ordem de ideias, qualquer um que realize uma transação pode reivindicar ser um t rader, mas quando se compara as características do pequeno número de ganhadores consistentes com as características da maioria dos outros traders, descobrimos que também eles são tão diferentes entre si como o dia da noite.

Se ir à Lua representa um sucesso consistente, podemos então dizer que enquanto trader é possível chegar à Lua. A viagem é extremamente difícil e somente um pequeno número de pessoas já a fizeram. Da Terra, a Lua é visível todas as noites e parece estar tão perto que podemos estender a mão e tocá-la. O trading com sucesso dá a mesma sensação. Num dia, numa semana ou num mês qualquer, os mercados disponibilizam grandes quantidades de dinheiro a quem tenha a capacidade de fechar uma posição com ganhos. Como os mercados estão em constante movimento, este dinheiro flui ficando aparentemente ao nosso alcance e aumentando as nossas hipóteses de sucesso.

Uso a palavra aparentemente para distinguir os dois grupos de traders. Para aqueles que aprenderam a ser consistentes ou a romper com o limiar da consistência, o dinheiro não só está ao seu alcance; eles conseguem virtuosamente ganhá-lo. Certamente, alguns irão considerar esta afirmação chocante ou difícil de acreditar, mas é verdade. Há algumas limitações, mas na maior parte das vezes o dinheiro flui para as contas destes traders com tal facilidade e ausência de esforço que é surpreendente.

Pelo contrário, para os traders que não evoluíram para este grupo restrito, a palavra aparentemente significa exatamente aquilo que sugere. Parece que a consistência ou o sucesso que desejam está à mão ou ao seu alcance, imediatamente antes de se desvanecer diante os seus olhos, vezes sem conta. A única coisa no trading que é consistente para este grupo é o sofrimento emocional. Certamente têm alguns momentos de júbilo, mas não é exagero dizer que a maior parte do tempo estão em estados de medo, raiva, frustração, ansiedade, desilusão, desespero e pesar.

Então o que separa estes dois grupos de traders? Será a inteligência? Serão os ganhadores sustentados mais espertos do que os outros? Será que trabalham mais? Serão melhores analistas ou terão acesso a melhores sistemas de trading? Será que possuem características estruturais de personalidade que lhes facilitam lidar com as pressões intensas do trading?

Todas estas hipóteses parecem plausíveis, exceto quando consideramos que a maior parte dos fracassos ocorre também com algumas das pessoas mais brilhantes da sociedade. O maior grupo de perdedores é composto principalmente por médicos, advogados, engenheiros, cientistas, reformados abastados e empresários. Adicionalmente, a maioria dos melhores analistas de mercado do setor são os piores traders que se pode imaginar. A inteligência e uma boa análise de mercado podem certamente contribuir para o sucesso, mas não são os fatores determinantes que separamos ganhadores consistentes de todas as outras pessoas.

Bem, se não é a inteligência ou uma melhor análise, então o que será?

Ao ter trabalhado com alguns dos melhores e dos piores traders no mercado e ajudado alguns dos piores a transformarem-se nalguns dos melhores, posso afirmar que de facto há razões específicas para que os melhores traders superem qualquer outra pessoa. Se eu tivesse que condensar todas as razões numa só, diria simplesmente que os melhores traders pensam de um modo diferente dos outros.

Sei que isto não parece muito profundo, mas tem implicações pro- fundas se considerarmos o que significa pensar de modo diferente. Numa medida ou noutra, todos nós pensamos de modo diferente uns dos outros. Podemos nem sempre nos aperceber, mas parece natural partirmos do princípio de que outras pessoas partilham das nossas opiniões e interpretações dos acontecimentos. De facto, este pressuposto mantém-se válido até entrarmos em desacordo sobre algum aspeto em particular com alguém. Para além das nossas características físicas, a forma como pensamos é o que nos torna únicos, provavelmente ainda mais do que as nossas características físicas determinam.

Voltemos aos traders. Oque diferencia a forma como os melhores traders pensam da forma como pensam aqueles que ainda estão no processo de aprendizagem? Embora os mercados possam ser descritos como um palco de oportunidades intermináveis, eles confrontam o indivíduo com algumas das suas condições psicológicas mais adversas. Em algum momento, todos aqueles que negoceiam nos merca- dos aprendem algo que os ajuda a identificar oportunidades. Mas aprender a identificar uma oportunidade para comprar ou vender não significa que tenham aprendido a pensar como traders.

A característica determinante que separa os ganhadores de todas as outras pessoas é esta: os ganhadores alcançaram um estado mental – um conjunto único de atitudes – que lhes permite manterem-se disciplinados, concentrados e, acima de tudo, confiantes, apesar das condições adversas. Em resultado disso, deixam de estar vulneráveis aos medos e aos erros de trading comuns que atormentam todos os outros. Todos os que transacionam na bolsa acabam por aprender alguma coisa sobre os mercados; muito poucas pessoas aprendem as atitudes essenciais para se tornarem ganhadores consistentes. Tal como podemos aprender a aperfeiçoar a técnica adequada para manejarmos um taco de golfe ou uma raquete de ténis, a consistência a jogar ou a falta dela, terá origem, sem dúvida, na nossa atitude.

Os traders que atravessam o limiar da consistência normalmente conhecem uma dose considerável de sofrimento (tanto emocional como financeiro) antes de adquirirem o tipo de atitude que lhes permite funcionar eficazmente no ambiente do mercado. As raras exceções são normalmente aqueles que nasceram em famílias com sucesso no trading ou que começaram as suas carreiras sob orientação de alguém que compreendia a verdadeira natureza do trading e, igualmente importante, sabiam como ensiná-la.

Porque é que o sofrimento emocional e a catástrofe financeira são comuns entre os traders? A resposta simples é que a maior parte de nós não teve a sorte de iniciar as suas carreiras com a devida orientação. No entanto, as razões são muito mais profundas. Passei os últimos dezessete anos a dissecar a dinâmica psicológica por detrás do trading para desenvolver métodos eficazes de ensino dos princípios do sucesso. Aquilo que descobri é que o trading está repleto de paradoxos e contradições do pensamento, o que torna extremamente difícil aprender a ter sucesso. De facto, se tivesse que escolher uma palavra que sintetizasse a natureza do trading, ela seria paradoxo.(Em qualquer dicionário, paradoxo é definido como algo que tem qualidades e características contraditórias entre si ou que são contrárias à convicção comum.)

As catástrofes financeiras e o sofrimento emocional são comuns entre traders porque muitas das perspectivas, atitudes e princípios que normalmente fariam sentido e funcionariam bastante bem nas nossas vidas diárias, têm o efeito oposto em ambiente de trading. Simplesmente não funcionam. Desconhecendo isto, a maioria dos traders começa as suas carreiras sem compreender o que significa ser um trader, quais as competências necessárias e a profundidade com que essas competências precisam de ser desenvolvidas.

Eis um exemplo: o trading é estruturalmente arriscado. Nenhuma operação tem um resultado garantido à partida; por conseguinte, a possibilidade de errar e perder dinheiro é real. Assim, quando realizamos um trade, podemos considerar que somos pessoas que arriscam? Embora possa parecer uma pergunta traiçoeira, não é.

A resposta lógica a esta questão é, inequivocamente, sim. Se eu me envolvo numa atividade que é estruturalmente arriscada, tenho que ser uma pessoa que arrisca. Este é um pressuposto perfeita- mente razoável do qual qualquer trader pode partir. De facto, não só praticamente todos os traders partilham deste pressuposto, como a grande maioria se orgulha de olhar para si próprios como pessoas que arriscam.

O problema é que este pressuposto não podia estar mais longe da verdade. É claro que qualquer trader arrisca quando realiza uma operação, mas isso não significa que esteja a aceitar aquele risco. Por outras palavras, todos os trades são arriscados porque os resultados são incertos, não garantidos. Mas será que a maioria dos traders acre- dita mesmo que está a arriscar quando abre uma posição? Será que aceita de facto que o trade tem um resultado incerto e não garantido? Além disso, será que aceita completamente as consequências que daí podem advir?

A resposta é, inequivocamente, não! A maior parte dos traders não tem a mínima ideia do que significa ser uma pessoa que arrisca, de acordo com o conceito de risco de um trader de sucesso. Os melhores traders não só correm esse risco como também aprenderam a aceitar e a abraçar esse risco. Há uma enorme distância psicológica entre assumir ser-se uma pessoa que arrisca porque realiza trades e aceitar totalmente os riscos inerentes a cada trade. Quando se aceita total- mente estes riscos, isso terá profundas implicações no seu desempenho final.

Os melhores traders conseguem abrir uma posição sem a mais leve hesitação ou conflito e, precisamente, com a mesma liberdade e sem hesitação ou conflito, admitir que a mesma não está a funcionar e fechá-la – mesmo com perda – sem o mais leve desconforto emocional. Por outras palavras, os riscos inerentes ao trading não fazem com que os melhores traders percam a sua disciplina, concentração ou confiança. Se não conseguimos transacionar sem o mais leve desconforto emocional (especificamente, medo), então não aprendemos a aceitar os riscos inerentes ao trading. Isto é um grande problema, porque seja qual for a medida em que não tenhamos aceitado o risco, é a mesma medida em que iremos evitar o risco. Tentar evitar alguma coisa que é inevitável terá efeitos catastróficos na nossa competência para negociar com sucesso.

Aprender a aceitar os riscos pode ser difícil, mas é extremamente difícil para os traders, especialmente considerando o que está em jogo. De que é que geralmente temos mais medo (para além de morrer e de falar em público)? Certamente de perder dinheiro e de errarmos. Admitir que estamos errados e ainda por cima perder dinheiro pode ser extremamente doloroso; consequentemente, algo a evitar. Mas como traders, somos confrontados com estas duas possibilidades praticamente em todos os momentos em que estamos num trade.

Pode estar a pensar neste momento: Para além de ser difícil, é natural não querer errar e perder dinheiro; por conseguinte, é adequado eu fazer tudo o que puder para o evitar. Concordo. Mas é esta tendência natural que torna o trading extremamente difícil.

O trading oferece-nos um paradoxo elementar: como é que nos mantemos disciplinados, concentrados e confiantes perante uma incerteza constante? Quando tivermos aprendido a pensar como um trader, é precisamente isto que estaremos aptos para fazer. Aprender a redefinir as nossas atividades de trading de forma que nos permita aceitar completamente o risco é a chave para pensarmos como um trader de sucesso. Aprender a aceitar o risco é uma competência de trading – a mais importante competência que podemos aprender. Mas é raro vermos os profissionais estarem dispostos a aprender essa competência.

Quando aprendemos a competência da aceitação do risco, o mercado deixa de gerar sinais que percepcionamos como negativos ou capazes de provocarem dor emocional. Se a informação que o mercado gera não tiver o potencial de nos causar dor emocional, não há nada a evitar. É apenas informação que nos vai fornecer possibilidades de ação. Isto chama-se perspectiva objetiva – que não é enviesada nem distorcida por aquilo que temos medo que possa acontecer.

Estou convencido de que não há um único trader a ler este livrei que não tenha aberto posições demasiado cedo ou demasiado tarde – antes ou depois de o mercado ter gerado o sinal adequado. Que trader não conseguiu assumir um prejuízo e, em resultado disso, o transformou numa perda ainda maior; ou saiu de bons trades demasiado cedo; ou passou por bons trades sem tomar mais-valias e depois os deixou transformarem-se em perdas; ou moveu stop-loss do seu ponto de entrada, só para ficar de fora esperando que o mercado invertesse a tendência e iniciasse a trajetória em direção à sua posição? Estes são só alguns dos muitos erros que os traders repetem na sua atividade.

Não há erros gerados pelo mercado. Isto é, estes erros não vêm do mercado. O mercado é neutro quando movimenta preços e gera sinais. As movimentações e as informações do mercado fornecem a cada um de nós apenas a oportunidade para agirmos. Os mercados não têm qualquer poder sobre o modo como cada um de nós percepciona e interpreta esta informação nem nenhum controlo sobre as decisões e ações que tomamos em resultado disso. Os erros que mencionei e muitos outros são estritamente o resultado daquilo a que chamo atitudes e perspectivas erradas de trading. Atitudes erradas que alimentam o medo em vez de nos darem confiança e segurança.

Não penso que a forma mais simples de diferenciar os ganhadores consistentes de todos os outros traders seja afirmar que os melhores traders não têm medo. Não têm medo porque desenvolveram atitudes que lhes dão um maior grau de flexibilidade mental para abrir e fechar posições com base no que o mercado lhes está a dizer num dado momento. Em simultâneo, os melhores traders desenvolveram atitudes que os previnem de se tornarem imprudentes. Todas as outras pessoas têm medo, numa medida ou noutra. Quando não têm medo, têm a tendência para se tornarem imprudentes e se deixarem envolver em situações que os farão sentir medo a partir desse momento.

Noventa e cinco por cento dos erros de trading que podemos cometer – fazendo com que15 o dinheiro simplesmente se evapore diante dos nossos olhos – tem origem nas atitudes que assumimos perante o erro, a perda de dinheiro, a perda de uma oportunidade e a realização de um negócio menos vantajoso financeiramente do que o esperado. Aquilo a que chamo os quatro principais medos do trading.

Pode estar a pensar: Não compre endo: sempre pensei que os traders deviam desenvolver um medo saudável dos mercados». De novo, isto é um pressuposto perfeitamente lógico e razoável. Mas quando se trata de trading, os nossos medos agem contra nós de tal modo que irão fazer com que aconteça precisamente aquilo de que temos medo. Se temos medo de errar, esse medo irá agir sobre a percepção que temos das informações do mercado de tal forma que fará com que façamos algo que nos conduz ao erro.

Quando sentimos medo, perdemos a capacidade de percepcionar outras possibilidades ou de agir devidamente sobre elas, mesmo que as consigamos percepcionar, porque o medo paralisa-nos. Fisicamente, o medo imobiliza-nos ou faz-nos correr . Mentalmente, faz com que limitemos o nosso foco à origem do medo. Isto significa que pensar noutras alternativas, bem como avaliar outras informações disponíveis do mercado, ficam bloqueadas. Enquanto sentirmos medo e a situação que lhe deu origem não passar, perdemos a capacidade de pensar racionalmente . Só quando o acontecimento passa, é que pensamos: Eu sabia. Porque é que não pensei nisso antes?» ou «Porque é que não fiz nada?.

É extremamente difícil perceber que a fonte desses problemas são as nossas próprias atitudes desadequadas. E é isso que torna o medo tão traiçoeiro. Muitos dos padrões de pensamento que afetam adversamente o trading são determinados pelas formas de pensar e de ver o mundo com que fomos criados. Estes padrões de pensamento estão tão profundamente enraizados nas nossas mentes que dificilmente nos ocorre a ideia de que a origem das nossas dificuldades de trading seja interna. De facto, é para nós muito mais fácil e natural identificar a origem do problema, frustração ou descontentamento como externa, vinda do mercado. Obviamente estes são conceitos abstratos e certamente não é algo com

que a maior parte dos traders se irá preocupar. Mas compreender a relação entre convicções, atitudes e percepções é tão fundamental para o trading como aprender a servir para o ténis ou manejar um taco no golfe. Visto de outra maneira, compreender e controlar a nossa percepção sobre os sinais que vêm do mercado é tão importante quanto os resultados sustentados que queremos alcançar.

Há ainda algo mais a dizer acerca do trading que é tão verdade como a afirmação anterior: não temos que saber nada sobre nós mesmos ou sobre os mercados para realizarmos um trade ganhador, tal como não temos que saber a forma adequada de segurar uma raquete de ténis ou um taco de golfe para conseguirmos uma boa jogada de vez em quando. A primeira vez que joguei golfe, consegui fazer várias boas jogadas ao longo do jogo embora não tivesse aprendido qualquer técnica particular. Obviamente, para melhorar a minha pontuação geral, precisei de aprender a técnica.

É claro que o mesmo se aplica ao trading. Precisamos de técnica para conseguir consistência nos resultados. Mas que técnica? Este é verdadeiramente um dos aspetos que causa mais perplexidade na aprendizagem de como negociar eficazmente. Se não soubermos ou não compreendermos como as nossas convicções e atitudes afetam a nossa percepção das informações do mercado, irá parecer que é o comportamento do mercado que causa maus resultados. Então, parece ficar claro que a melhor forma de evitar perdas e garantir ganhos consistentes é aprender mais sobre os mercados.

Esta ideia lógica é uma armadilha em que quase todos os traders caem nalgum momento pois parece fazer todo o sentido. Mas esta abordagem está errada. O mercado oferece demasiadas variáveis – frequentemente contraditórias. Além disso, não há limites para o comportamento do mercado. Tudo pode acontecer em qualquer momento. De facto, como cada trader é uma variável do mercado, pode dizer-se que qualquer trader individual pode fazer com que praticamente tudo aconteça.

Isto significa que independentemente de quanto aprendemos sobre o comportamento do mercado, independentemente de quão brilhante sejamos como analistas, nunca iremos aprender o suficiente para antecipar todas as formas possíveis como o mercado nos pode maltratar ou fazer com que percamos dinheiro. Portanto, se estamos com medo de errar ou de perder dinheiro, significa que nunca iremos aprender o suficiente para compensar os efeitos negativos que estes medos terão sobre a nossa capacidade de sermos objetivos e agirmos sem hesitação. Por outras palavras, não estaremos suficientemente confiantes face à incerteza constante. A realidade dura e fria do trading é que cada trade tem um resultado incerto. A menos que aprendamos a aceitar plenamente a hipótese de um resultado incerto, iremos tentar consciente ou subconscientemente evitar qualquer hipótese menos boa. Ao longo do processo, vai sujeitar-se a si próprio a um sem número de erros caros.

Não estou a sugerir que podemos dispensar análise de mercado ou metodologia para identificar oportunidades e conseguirmos reconhecê-las; certamente precisamos. No entanto, a análise de mercado não é o caminho para obter resultados sustentados. Não irá resolver os problemas de trading criados pela falta de confiança, pela falta de disciplina ou pela dispersão de pensamentos.

Quando se opera com base no pressuposto de que mais ou melhor análise cria condições para obter melhores resultados, mais variáveis de mercado juntamos ao nosso conjunto de ferramentas de trading. E o que acontece depois? Voltamos a sentir -nos desiludidos e traí- dos pelos mercados por causa de algo que ainda não vimos ou não tomámos em consideração. Iremos sentir que não podemos confiar nos mercados; mas a realidade é que não podemos confiar é em nós próprios.

A confiança e o medo são estados de espírito contraditórios, ambos com origem nas nossas convicções e atitudes. Ao funcionar num ambiente em que se pode facilmente perder mais do que tencionamos arriscar, é preciso ter uma confiança absoluta em nós mesmos. No entanto, não conseguiremos alcançar esta confiança até termos treinado o nosso cérebro aultrapassar a sua inclinação natural para pensar de forma contra producente parasse ser um trader com sucesso consistente. Aprender a analisar o comportamento do mercado não é o treino adequado.

Temos duas opções: tentar eliminar o risco aprendendo sobre o maior número possível de variáveis de mercado. {Chamo a isto o buraco negro da análise, porque é o caminho para a frustração final). Ou aprender a redefinir as atividades de trading de tal forma que aceitamos verdadeiramente o risco e deixamos de ter medo.

Quando tivermos alcançado um estado mental em que aceitamos o risco, será menos provável considerarmos os sinais do mercado como negativos. Também eliminamos a tendência para racionalizarmos, hesitarmos ou agirmos precipitadamente.

Enquanto estivermos vulneráveis aos diversos tipos de erros por racionalizarmos, justificarmos, hesitarmos e agirmos precipitadamente, não seremos capazes de confiar em nós próprios. Se não somos capazes de confiar em nós próprios, conseguir resultados consistentes estará próximo do impossível. Fazer algo que parece tão simples pode bem ser a coisa mais exasperante que tentamos fazer. A ironia é que, quando tomarmos a atitude adequada, quando tivermos adquirido a atitude mental de um trader e conseguirmos permanecer confiantes face à co:1stante incerteza, o trading será tão fácil e simples como pensávamos que era quando demos os primeiros passos.

Então, qual a solução? Precisamos aprender a ajustar as nossas atitudes e convicções sobre o trading de tal modo que consigamos transacionar sem o mais pequeno medo, mas ao mesmo tempo manter em funcionamento uma estrutura de referência que nos impeça de nos tornarmos imprudentes. O objetivo deste livro é precisamente ensinar isto.

À medida que avançamos na leitura, gostaria que mantivesse uma coisa em mente. O trader de sucesso em que se pretende transformar é uma projeção futura de si mesmo na qual tem que se transformar crescendo. O crescimento implica expansão, aprendizagem e criação de um novo modo de se exprimir. Isto é verdade mesmo que já seja um trader de sucesso e que esteja a ler este livro para ter ainda mais sucesso. Muitas das novas formas em que irá aprender a exprimir-se entrarão em conflito com as ideias e convicções que hoje defende acerca da natureza do trading. Pode já conhecer ou não algumas dessas convicções. Em qualquer caso, aquilo que hoje defende como verdadeiro sobre a natureza do trading irá debater-se dentro de si para se manter como tal, apesar das suas frustrações e resultados insatisfatórios.

Estes argumentos internos são naturais. O meu desafio neste livro é ajudá-lo a resolver estes argumentos o mais eficientemente possível. A sua predisposição para considerar que existem outras hipóteses – hipóteses que pode não conhecer ou que nunca considerou devidamente – irá obviamente tornar o processo de aprendizagem mais rápido e mais fácil.


Conclusão

Ao final desse capítulo, torna-se evidente que o sucesso no mercado financeiro não se baseia apenas em estratégias bem delineadas, mas também em uma mentalidade forte e equilibrada. Mark Douglas, com sua abordagem única, nos mostra a necessidade de entrar na “zona de trading”, um estado mental onde as decisões são tomadas com clareza, sem a interferência de emoções prejudiciais.


A Obra de Mark Douglas

Mark Douglas é amplamente reconhecido no mundo do trading por seus insights sobre a psicologia dos traders e por seus ensinamentos sobre como abordar o mercado com uma mentalidade disciplinada e orientada ao sucesso. Ao longo de sua carreira, Douglas publicou diversos livros que se tornaram leituras essenciais para traders de todos os níveis de experiência. Aqui está uma lista dos seus livros mais influentes, juntamente com breves resumos:

               
  1. “Trading in the Zone: Master the Market with Confidence, Discipline and a Winning Attitude” (Negociando na Zona)
    • Resumo: Este é talvez o livro mais popular de Douglas. Ele aborda os principais obstáculos psicológicos enfrentados por traders e fornece soluções para superá-los. Douglas destaca a importância de desenvolver uma mentalidade disciplinada e focada em probabilidades, ao invés de se concentrar em ganhos ou perdas individuais.
  2. “The Disciplined Trader: Developing Winning Attitudes” (O Trader Disciplinado)
    • Resumo: Neste livro, Douglas explora a psicologia do trader e a necessidade de desenvolver atitudes vencedoras para ter sucesso nos mercados. Ele aborda as emoções comuns que podem sabotar um trader e oferece estratégias para gerenciar e superar esses desafios mentais.
  3. “The Little Book of Trading Performance”
    • Resumo: Um guia mais curto e conciso, este livro destila a sabedoria de Douglas em dicas práticas e insights sobre o desempenho no trading. Ele oferece conselhos sobre como manter a consistência, superar obstáculos psicológicos e otimizar o desempenho geral.

Os livros de Mark Douglas são uma fonte inestimável de sabedoria para qualquer trader que deseja melhorar sua abordagem mental ao trading. Eles oferecem não apenas técnicas e estratégias, mas também uma compreensão profunda da natureza humana e de como superar os desafios internos que todos os traders enfrentam.


Sempre é Importante Lembrar

Operar no mercado financeiro não se resume a análises e previsões. É primordial possuir um controle emocional robusto ao realizar suas operações. A gestão de risco é um elemento vital, pois envolve escolher o tamanho apropriado para as posições, determinar pontos de stop loss e estipular metas lucrativas. Nunca esqueça da volatilidade intrínseca aos mercados e que enfrentar perdas é parte integrante da trajetória do trader. Esteja sempre aberto a novos métodos, realinhe estratégias quando necessário e busque atualização constante. Com foco, disciplina e resiliência, você potencializará suas chances de se destacar como um trader lucrativo.


A Melhor Forma de Aprender Sobre Trading

Uma das melhores maneiras de aprofundar seus conhecimentos sobre trading é, sem dúvida, através da leitura de livros especializados no assunto. Os insights e experiências compartilhadas por autores renomados podem ser fundamentais para o seu desenvolvimento. E, além dos livros, aproveite os recursos oferecidos pelo canal “Com Lucro”, que disponibiliza informações valiosas, vídeos e aulas voltadas para traders de todos os níveis.


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