Introdução

O mundo do mercado financeiro está repleto de desafios e oportunidades. Porém, para realmente se destacar e ser bem-sucedido como trader, não basta apenas dominar técnicas e estratégias. O aspecto mental é tão crucial quanto qualquer ferramenta técnica que você possa utilizar. Mark Douglas, em seu renomado livro “Trading in The Zone”, aborda justamente a importância da mentalidade correta ao operar no mercado. E neste artigo, vamos mergulhar no capítulo 7 deste incrível audiobook, agora disponível em português.


Trading in The Zone – Capítulo 7

A essência do trader: pensar em termos de probabilidades

O que significa exatamente pensar em termos de probabilidades e por que isso é tão importante para o sucesso sustentado de um trader? Se reparar bem na última frase, verificará que eu fiz os ganhos sustentados depender de probabilidades. Parece uma contradição: como é que alguém pode obter resultados sustentados de um acontecimento com um desfecho incerto? Para responder a esta questão, tudo o que temos de fazer é olhar para a indústria do jogo.

As empresas ligadas ao jogo gastam somas avultadas de dinheiro, na casa das centenas de milhões, se não dos milhares de milhões de euros, em hotéis sofisticados para atrair clientes para os seus casinos. Aquilo que os proprietários dos casinos, os jogadores experientes e os melhores traders percebem é que os acontecimentos que têm desfechos aleatórios podem produzir resultados sustentados, se as probabilidades jogarem a seu favor e a sua dimensão for suficientemente grande. O trader menos experiente não consegue perceber isto, ao contrário dos melhores traders que encaram o trading como uma lotaria, semelhante à forma como os casinos e os jogadores profissionais encaram o jogo.

Se já esteve em Las Vegas ou em Macau sabe exatamente do que estou a falar. Estes 4/5 por cento podem não parecer muito. Mas suponhamos a falar. As empresas de jogo são exatamente como as outras empresas, na medida em que têm de justificar a um conselho de administração e, em última análise, aos seus acionistas, como distribuem os seus recursos. Como é que acha que justificam gastar tanto dinheiro em hotéis luxuosos e casinos, cuja função principal é gerar lucros de um acontecimento que tem um desfecho puramente aleatório?

Paradoxo: Desfecho aleatório, resultados sustentados

Ora aqui está um paradoxo interessante. Os casinos geram lucros sustentadamente dia após dia e ano após ano, promovendo um acontecimento que tem um desfecho puramente aleatório. Simultaneamente, a maioria dos traders acredita que o comportamento do mercado não conduz a desfechos aleatórios, embora não consigam gerar lucros sustentados com tanta facilidade. Não deveria um desfecho não aleatório produzir resultados sustentados e um desfecho aleatório produzir resultados não sustentados?

Olhemos, por exemplo, para o blackjack. No blackjack, os casinos têm aproximadamente uma vantagem de 4,5 por cento sobre o jogador, com base nas regras do jogo aceites pelos jogadores. Isto significa que, no universo de todos os jogadores, o casino irá gerar lucros líquidos de quatro cêntimos e meio por cada euro apostado no jogo. Esta média de quatro cêntimos e meio tem em conta todos os jogadores, os que perderam muito e todos os outros. Ao fim de um dia, uma semana, um mês ou um ano, o casino arrecada sempre para si aproximadamente 4,5 por cento do valor total jogado.

Estes 4,5 por cento podem não parecer muito. Mas suponhamos que este jogo movimenta um total de 100 milhões de euros em todas as mesas de blackjack ao longo de um ano. O casino terá um lucro de 4,5 milhões.

O que os proprietários dos casinos e os jogadores profissionais compreendem sobre a natureza das probabilidades é que cada rodada individual é estatisticamente independente de todas as outras. Isto significa que cada rodada individual é um acontecimento único, em que o desfecho é aleatório em relação à última e à próxima rodada. Se pensarmos em cada rodada individualmente, haverá uma distribuição aleatória e imprevisível entre as rodadas vencedoras e as perdedoras. Mas numa base coletiva, acontece o contrário. Com um número de rodadas suficientemente grande, irão emergir padrões que produzem um desfecho consistente, previsível e estatisticamente fiável.

O que torna tão difícil pensar em termos de probabilidades é a existência de dois níveis de pensamento sobrepostos que se parecem contradizer. Chamemos ao primeiro o nível micro. A este nível, temos que acreditar na incerteza e na imprevisibilidade do desfecho de cada rodada individual. Conhecemos a verdade desta incerteza porque há sempre um número de variáveis desconhecidas que afetam a regularidade do baralho de cartas usado para cada nova rodada. Por exemplo, não podemos saber antecipadamente como os outros participantes vão decidir jogar, uma vez que podem aceitar ou recusar cartas adicionais. Quaisquer variáveis que influenciam a regularidade do baralho e que não sejam controladas ou conhecidas antecipadamente irão tornar o desfecho de qualquer rodada particular incerto e aleatório (estatisticamente independente).

O segundo nível é o macro. Neste nível, temos de acreditar que o desfecho após uma série de rodadas é relativamente certo e previsível. O grau de certeza baseia-se nas variáveis fixas ou constantes que são conhecidas antecipadamente e especificamente concebidas para beneficiar um lado ou outro. As variáveis constantes a que me refiro são as regras do jogo. Assim, muito embora não seja possível saber antecipadamente a sequência de vitórias e derrotas, podemos estar relativamente certos de que, se forem jogadas rodadas suficientes, o lado para quem tenda a vantagem vai acabar com mais vitórias do que derrotas. O grau de certeza depende do modelo inicial patente nas regras do jogo.

É a capacidade de acreditar na imprevisibilidade do jogo ao nível micro e simultaneamente acreditar na previsibilidade do jogo ao nível macro que tornam o casino e o jogador profissional eficazes e bem-sucedidos naquilo que fazem. A sua convicção quanto à singularidade de cada rodada impede-os de se envolverem no esforço inútil de tentar prever o desfecho de cada rodada individual. Aprendem e aceitam completamente o facto de que não sabem o que vai acontecer a seguir. Mais importante, não precisam de o saber para ganhar dinheiro consistentemente.

Como não têm que saber o que vai acontecer a seguir, não atribuem qualquer significado especial a cada rodada individual, a cada volta da roleta ou a cada lançamento de dados. Por outras palavras, não ficam expectantes com o que vai acontecer, nem pressionam os seus egos para terem de estar certos. Como resultado, é mais fácil concentrarem-se em manter as probabilidades a seu favor e jogar sem erros, o que por sua vez os torna menos suscetíveis de cometerem erros que podem sair caros. Descontraem-se porque apenas se empenham em deixarem as suas probabilidades esgotarem-se, sabendo que se os modelos forem bons e a dimensão grande o suficiente, então irão sair vencedores no final.

Os melhores traders usam a mesma estratégia de pensamento. Não só isto funciona em seu benefício, mas a dinâmica elementar que suporta a necessidade de tal estratégia é exatamente a mesma no trading e no jogo. Uma simples comparação entre as duas irá demonstrá-lo muito claramente.

Primeiro, o trader, o jogador e o casino estão todos a lidar com variáveis conhecidas e desconhecidas que influenciam o desfecho de cada posição ou jogo. No jogo, as variáveis conhecidas são as regras do jogo. No trading, as variáveis conhecidas (da perspectivade cada trader individual) são os resultados da sua análise de mercado. A análise de mercado encontra padrões comportamentais nas ações coletivas de todos os que participam num determinado mercado. Sabemos que as pessoas irão agir do mesmo modo em condições e circunstâncias semelhantes, repetidamente, produzindo padrões de comportamento observáveis e mensuráveis. Similarmente, grupos de pessoas a interagir uns com os outros, dia após dia, semana após semana, também produzem padrões comportamentais que se repetem.

Estes padrões comportamentais coletivos podem ser descobertos e subsequentemente identificados usando ferramentas analíticas como as linhas de tendência ou os osciladores, por exemplo, que estão disponíveis para qualquer trader. Cada ferramenta analítica recorre a um conjunto de critérios para definir os limites de cada padrão comportamental identificado. O conjunto de critérios e os limites identificados são as variáveis de mercado conhecidas pelo trader. Estão para o trader individual como as regras do jogo estão para o casino e para o jogador. Quero com isto dizer que as ferramentas analíticas do trader são as variáveis conhecidas que determinam as probabilidades de sucesso de qualquer trade específico, do mesmo modo que as regras do jogo determinam as probabilidades de sucesso a favor do casino.

Segundo, sabemos que no jogo algumas variáveis desconhecidas influenciam o desfecho de cada jogo. No blackjack, desconhece-se a ordem do baralho e o modo como os jogadores escolhem jogar na sua vez. No craps, é o modo como os dados são lançados. E na roleta, é a força aplicada para fazer girar a roda. Todas estas variáveis desconhecidas influenciam o desfecho de cada acontecimento individual, de tal forma que faz com que cada acontecimento seja estatisticamente independente de qualquer outro, criando assim uma distribuição aleatória entre vitórias e derrotas.

O trading também envolve um conjunto de variáveis desconhecidas que influenciam o desfecho de qualquer padrão comportamental específico que um trader pode identificar como a sua oportunidade de entrar. No trading, as variáveis desconhecidas são todos os outros traders que podem entrar no mercado para realizar ou fechar uma posição. Cada posição contribui para a evolução do mercado num dado momento, o que significa que cada trader, agindo com base no que pensa estar caro ou barato, contribui para o padrão de comportamento coletivo que é exibido naquele momento.

Se for possível identificar um padrão e se as variáveis usadas para definir aquele padrão corresponderem à definição de um sinal positivo para um trader em particular, então podemos dizer que o mercado está a oferecer ao trader uma oportunidade para comprar em baixa ou vender em alta. Suponhamos que o trader agarra a oportunidade e realiza o trade. Que fatores irão determinar se o mercado evolui na sua direção ou contra ele? A resposta é: o comportamento dos outros traders.

No momento em que abre uma posição e enquanto se mantiver nela, outros traders estarão a participar naquele mercado. Estarão a agir igualmente com base no que acreditam estar caro ou barato. Num dado momento, uma percentagem dos outros traders estará a confirmar o sinal que o nosso trader identificou e outra percentagem de trades estará a fazer o seu oposto. Não há forma de se saber antecipadamente como todos os outros traders se irão comportar e como o seu comportamento irá influenciar o nosso trade, pelo que o seu desfecho é incerto. O facto é que o desfecho de qualquer trade é sempre influenciado pelo comportamento subsequente de outros traders ativos no mercado, tornando incerto o desfecho de todos os trades.

Como todos os trades têm um desfecho incerto então, tal como no jogo, cada posição tem de ser estatisticamente independente do trade seguinte, do último trade ou de quaisquer trades no futuro, embora o trader possa usar o mesmo conjunto de variáveis conhecidas para identificar a sua oportunidade. Além disso, se o desfecho de cada trade for estatisticamente independente de todos os outros, também tem de haver uma distribuição aleatória entre ganhos e perdas numa determinada sequência ou num conjunto de trades, embora as probabilidades de sucesso para cada trade possam jogar a favor do trader.

Terceiro, os proprietários dos casinos não tentam prever ou saber antecipadamente o desfecho de cada acontecimento. Para além de que seria extremamente difícil dadas as variáveis desconhecidas em cada jogo, tal não é necessário para criar resultados consistentes. Os donos dos casinos sabem que tudo o que têm de fazer é manter as probabilidades a seu favor e garantir um número suficientemente grande de jogadores para que as suas probabilidades se concretizem.

O trading no momento

Os traders que aprenderam a pensar em termos de probabilidades abordam os mercados praticamente da mesma maneira. No nível micro, acreditam que cada trade e oportunidade são únicos. O que sabemos sobre a natureza do trading é que num dado momento, o mercado pode gerar um gráfico exatamente igual ao que gerou em algum momento anterior e as medidas geométricas e os cálculos matemáticos usados para determinar cada oportunidade podem ser exatamente os mesmos; mas a consistência do mercado num momento e no momento seguinte nunca é a mesma.

Para que qualquer padrão específico seja neste momento exatamente o mesmo que foi num momento anterior, seria preciso que todos os traders que participaram naquele momento anterior estivessem presentes. Mais ainda, cada um deles teria também de interagir com os outros exatamente da mesma forma durante o período de tempo suficiente para produzir exatamente o mesmo desfecho no padrão observado. As probabilidades de tal acontecer são nulas.

É extremamente importante que compreenda este fenómeno porque as implicações psicológicas não podem ser mais importantes. Podemos usar todas as ferramentas para analisar o comportamento do mercado e encontrar os padrões que representam as melhores oportunidades e, do ponto de vista analítico, estes padrões podem parecer precisamente os mesmos de todos os pontos de vista, tanto a nível matemático como gráfico. Mas se a constituição do grupo de traders que constituem o padrão presente diferir nem que seja numa só pessoa, então o desfecho do padrão presente será diferente do padrão passado. (O exemplo do analista e do presidente ilustra esta ideia muito bem). Só é preciso um trader, algures no mundo, com uma convicção diferente sobre o futuro para mudar o desfecho de qualquer padrão de mercado específico e contrariar o sinal que aquele padrão eventualmente apresenta.

A característica mais elementar do comportamento do mercado é que cada situação de mercado do momento presente, cada padrão de comportamento do momento presente e cada oportunidade do momento presente é sempre uma ocorrência única como seu próprio desfecho, independente de todos os outros. A singularidade implica que tudo pode acontecer, seja o que conhecemos (esperamos ou antecipamos), ou o que não conhecemos (ou não podemos saber, a menos que tivéssemos aptidões perceptivas extraordinárias). Um fluxo constante de variáveis conhecidas e desconhecidas cria um ambiente probabilístico em que não sabemos ao certo o que irá acontecer a seguir.

Esta última frase pode parecer lógica, mesmo evidente, mas há aqui um problema enorme que é tudo menos lógico ou evidente. Estar consciente da incerteza e compreender a natureza das probabilidades não é o mesmo que possuir a aptidão para trabalhar eficazmente do ponto de vista probabilístico. Pode ser difícil pensar em termos de probabilidades, porque as nossas mentes não processam naturalmente a informação desta maneira. Muito pelo contrário, as nossas mentes fazem-nos percepcionar aquilo que conhecemos e aquilo que conhecemos é parte do nosso passado, enquanto no mercado cada momento é novo e único, embora possa haver semelhanças com algo que tenha ocorrido no passado.

Isto significa que, a menos que treinemos as nossas mentes para percepcionar a singularidade de cada momento, essa singularidade será automaticamente filtrada fora da nossa percepção. Apenas percebemos o que conhecemos e perdemos assim toda a informação que ficou bloqueada pelos nossos medos. A questão principal é que há algum grau de sofisticação no pensamento em termos de probabilidades, o que pode exigir a algumas pessoas um esforço considerável para o integrar nos seus sistemas mentais sob a forma de estratégia de pensamento funcional. A maioria dos traders não compreende isto; em resultado, consideram erradamente que estão a pensar em termos de probabilidades, apenas porque têm algum grau de compreensão dos conceitos.

Trabalhei com centenas de traders que consideravam que estavam a pensar em termos de probabilidades, mas não estavam. Eis um exemplo de um trader com quem trabalhei, a quem irei chamar Bob.

Bob gere aproximadamente 50 milhões de euros em investimentos. Ele está neste negócio há cerca de 30 anos. Veio a um dos meus workshops porque nunca conseguiu gerar mais de 12 a 18 por cento de retorno anual sobre as contas que geria. É uma boa rentabilidade, mas o Bob estava extremamente insatisfeito porque as suas análises sugeriam que ele devia conseguir um retorno anual de 150 a 200 por cento.

Eu descreveria o Bob como bem informado acerca da natureza das probabilidades. Por outras palavras, ele compreendia os conceitos, mas não trabalhava de uma perspectiva probabilística. Pouco depois de ter ido ao workshop, ele telefonou-me para pedir alguns conselhos. Eis um artigo que escrevi imediatamente após a nossa conversa telefónica.

28-9-95: o Bob telefonou-me com um problema. Ele abriu uma posição no mercado e definiu um stop. O mercado fez cerca de um terço do caminho na direção do seu stop e depois inverteu até ao seu ponto de entrada, onde ele decidiu abandonar a posição. Quase imediatamente após ter saído, o mercado movimentou-se 500 pontos na direção inicial mas, claro, já estava fora do mercado. Ele não percebeu o que se passou. Primeiro, perguntei-lhe qual era o seu risco. Ele não percebeu a pergunta. Partiu do princípio que tinha aceite um risco, pois deu uma ordem de stop. Respondi que só por ter dado uma ordem de stop, não significava que tivesse aceite o risco do trade. Há muitas coisas que podem estar em risco: perder dinheiro, errar, não ser perfeito, etc. dependendo da motivação de cada pessoa para o trading. Salientei que as convicções de uma pessoa são sempre reveladas pelas suas ações. Podemos partir do princípio que ele estava convicto de que para ser um trader disciplinado teria de definir o risco e definir um stop. E assim fez. Mas é possível definir um stop e ao mesmo tempo não acreditar que alguma vez o vai executar ou que o mercado se movimente na sua direção.

Pelo modo como descreveu a situação, pareceu-me que tinha sido exatamente isto que lhe tinha acontecido: quando realizou o trade, não acreditava que o seu stop ia ser atingido nem que o mercado iria na sua direção. De facto, estava tão inflexível quanto a isto, que quando o mercado regressou ao seu ponto de entrada ele fechou a posição para punir o mercado com uma atitude de “vou mostrar-te quem manda”.

Depois de eu lhe ter chamado a atenção para isto, ele disse que esta fora exatamente a atitude que teve quando fechou a posição. Disse que tinha estado à espera deste trade durante semanas e quando o mercado finalmente o permitiu, ele pensou que iria imediatamente inverter. Respondi, lembrando-o que devia olhar para esta experiência como reveladora do caminho para algo que ele tem de aprender. Um pré-requisito para pensar em termos de probabilidades é aceitar o risco, porque se assim não for, não iremos enfrentar a hipótese de não o aceitar, se e quando ele se concretizar.

Quando tiver treinado a sua mente para pensar em probabilidades, significa que aceitou completamente todas as hipóteses (sem resistência ou conflito interno) e que se esforça para ter em conta as forças desconhecidas. Pensar deste modo é praticamente impossível a menos que tenha feito o trabalho mental necessário para deixar de pensar na necessidade de saber o que vai acontecer a seguir ou na necessidade de acertar em cada trade. De facto, o grau com que pensa que sabe, parte do princípio que sabe ou, de alguma maneira, acredita que sabe o que vai acontecer a seguir, é equivalente ao seu grau de fracasso como trader.

Os traders que aprenderam a pensar em termos de probabilidades estão confiantes no seu sucesso, porque empenham-se em agarrar cada trade que corresponda à oportunidade que identificam. Não selecionam cuidadosamente as oportunidades, pois partem do princípio, ou acreditam, que vão funcionar; nem evitam as oportunidades que, seja por que razão for, partem do princípio ou acreditam que não irão funcionar. Se o fizessem, estariam a contrariar a sua convicção de que a situação do momento presente é sempre única, criando uma distribuição aleatória entre ganhos e perdas. Aprenderam, arduamente, que não sabem antecipadamente quais as oportunidades que irão funcionar e quais as que não irão. Deixam então de tentar prever desfechos e descobrem que ao agarrar todas as oportunidades, estão a aumentar o volume dos seus trades o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de terem um desfecho favorável, tal como nos casinos.

Por outro lado, porque pensa que os traders que não são bem sucedidos são obcecados com a análise de mercado? Eles anseiam pela sensação de certeza e segurança que a análise lhes parece dar. Embora poucos o admitam, a verdade é que o trader comum quer acertar em todos os trades. Tenta desesperadamente criar certezas onde ela simplesmente não existe. A ironia é que se ele aceitasse completamente o facto de que a certeza não existe, iria criar a certeza por que anseia: iria ter a certeza de que a certeza não existe.

Quando se aceita a incerteza de cada posição e a singularidade de cada momento, termina a nossa frustração com o trading. Além disso, deixamos de estar vulneráveis aos erros que reduzem a nossa capacidade de sermos consistentes e destroem a nossa autoconfiança. Por exemplo, não definir o risco antes de abrir uma posição é de longe o mais comum de todos os erros de trading. Considerando o facto de que tudo pode acontecer, não faria sentido determinar como o mercado tem de estar, antes de executar um trade, para saber se a sua oportunidade está a funcionar ou não? Assim, porque é que o trader comum não decide fazê-lo ou fazê-lo sempre?

Já dei a resposta no capítulo anterior, mas há mais a dizer sobre isto e também há uma lógica complicada envolvida. No entanto, a resposta é simples. O trader comum não predefine o risco ao abrir uma posição porque acredita não ser necessário. E acha que não é necessário porque acredita que sabe o que vai acontecer a seguir. Ea razão por que acredita que sabe o que vai acontecer a seguir é porque não abre uma posição até estar convencido que está certo. No ponto em que estiver convencido que o trade será ganhador, já não é necessário definir o risco (porque se ele está certo, deixa de haver risco).

Os traders comuns fazem o exercício de se convencerem que estão certos antes de abrirem uma posição, porque a alternativa (estar errado) é, simplesmente, inaceitável. Lembre-se que as nossas mentes estão programadas para associar. Em resultado disso, estar errado em qualquer trade específico pode estar associado a qualquer outra experiência na vida de um trader em que tenha errado. A implicação é que qualquer trade pode facilmente lançá-lo para a angústia acumulada de todas as vezes em que ele já esteve errado ao longo da sua vida. Dada a enorme acumulação de energia negativa por resolver que existe na maioria das pessoas a envolver o significado de estar errado é fácil perceber porque é que cada trade pode literalmente adquirir um significado de uma situação de vida ou morte.

Assim, para o trader comum, determinar como o mercado tem de parecer ou soar para lhe dizer que um trade não está a funcionar iria criar um dilema irreconciliável. Por um lado, ele quer desesperadamente ganhar e a única forma de ganhar é participando, mas a única forma de participar é se tiver a certeza que o trade vai ser bom.

Por outro lado, se ele definir o risco, está a reunir deliberadamente argumentos que vão negar algo de que já se tinha convencido. Ele estará a contrariar o processo de tomada de decisão que implementou para se convencer a si mesmo que o trade irá funcionar. Se se expusesse a informações contraditórias, tal iria gerar dúvidas sobre a viabilidade do trade. Se se permitir duvidar, é muito improvável que entre. Se não abrir uma posição e esta se revelar ganhadora, ficará numa extrema agonia. Para algumas pessoas, nada magoa mais do que uma oportunidade perdida devido a insegurança. Para o trader comum, a única saída deste dilema psicológico é ignorar o risco e continuar convencido que o trade é bom.

Se esta situação lhe parece familiar, pense nisto: quando se está a convencer a si mesmo que está certo, o que está a dizer a si próprio: “eu sei quem está neste mercado e quem está prestes a entrar. Sei o que pensam. Além disso, conheço a capacidade de cada um para agir, com esta informação, sou capaz de determinar como as ações de cada uma destas pessoas irão afetar o movimento dos preços coletivamente daqui a um segundo, um minuto, uma hora, um dia ou uma semana”. Olhando desta perspectiva para o processo de se convencer a si mesmo que está certo, parece um pouco absurdo, não é?

Para os traders que aprenderam a pensar em termos de probabilidades, não há dilema. Predefinir o risco não levanta problemas a estes traders porque não fazem trading de uma perspectivado certo ou errado. Aprenderam que o trading não tem nada a ver com estar certo ou errado. Em resultado, não sentem os riscos do trading da mesma maneira que os traders comuns.

Qualquer um dos melhores traders (os que pensam em termos de probabilidades) pode ter tanta energia negativa em torno do significado de estar errado quanto o trader comum. Mas desde que definam legitimamente o trading como um jogo de probabilidades, as suas reações emocionais ao resultado de qualquer trade são equivalentes ao modo como o trader comum se iria sentir ao atirar ao ar uma moeda, pedir cara e sair coroa. Uma previsão incorreta embora, Para a maioria das pessoas, errar na previsão de sair cara ou coroa não as lhes despertará a dor emocional acumulada por todas as vezes nas suas vidas em que estiveram erradas.

Porquê? A maioria das pessoas sabe que o resultado de atirar uma moeda ao ar é puramente aleatório. Se acreditarmos que o resultado é aleatório então esperamos naturalmente um resultado aleatório. A aleatoriedade implica pelo menos algum grau de incerteza. Assim quando aceitamos um acontecimento que não sabemos como ele se irá desenrolar, essa aceitação tem o efeito de manter as nossas expectativas neutras e sem restrições.

Agora estamos a concentrar-nos no âmago daquilo que aflige o trader comum. Qualquer expectativa sobre o comportamento do mercado que seja específica, bem definida ou rígida, em vez de ser neutra e sem restrições, é irrealista e potencialmente nociva. Se cada momento no mercado é único e tudo é possível, então qualquer expectativa que não reflita estas características livres de restrições é irrealista.

Gerir as expectativas

Os danos provocados pelas expectativas irrealistas derivam da forma como afetam a nossa percepção da informação. As expectativas são projeções mentais daquilo que, nalgum momento no futuro, exatamente como esperávamos, a menos, é claro, que sejamos surpreendidos por algo que se revela melhor do que imaginávamos.

É aqui que nos deparamos com problemas. Como as nossas expectativas provêm daquilo que conhecemos, esperamos, naturalmente, que o que pensamos conhecer esteja certo. Assim, já não estamos num estado mental neutro ou aberto e não é difícil compreender porquê. Se achamos que nos vamos sentir tranquilos se o mercado se comportar como esperamos, ou sentir ameaçados se fizer o contrário, então não estamos num estado mental neutro ou aberto. Muito pelo contrário, o poder da convicção que alimenta a expectativa fará com que percepcionemos os sinais do mercado de forma a confirmar aquilo que esperamos (naturalmente gostamos de nos sentir bem e os nossos mecanismos de proteção para evitar a dor emocional irão proteger-nos dos sinais de mercado que não confirmam aquilo que esperamos, para evitar que nos sintamos mal).

Tal como já indiquei, as nossas mentes estão concebidas para nós vamos ver, ouvir, saborear ou tocar e provêm daquilo que conhecemos – ajudar a proteger da dor, tanto física como emocional. Estes mecanismos. Não podemos esperar algo que não conhecemos ou de que não temos consciência. Aquilo que conhecemos é equivalente àquilo que aprendemos a pensar acerca das formas como o ambiente externo se pode exprimir; é a nossa versão pessoal da verdade. Quando esperamos que algo aconteça, estamos a projetar para o futuro aquilo que pensamos ser verdade. Estamos à espera que o ambiente externo daqui a um minuto, uma hora, um dia, uma semana ou um mês se manifeste da forma como o representámos nas nossas mentes.

Temos de ser cuidadosos quanto ao que projetamos para o futuro, porque nada é capaz de criar maior infelicidade e sofrimento emocional do que uma expectativa não correspondida. Quando os acontecimentos se dão exatamente como esperávamos, como nos sentimos? A resposta é geralmente: muito bem, o que inclui, entre outras, a sensação de felicidade, alegria, satisfação e bem-estar, a menos que se concretize algo terrível por que tenhamos esperado.

Inversamente, como nos sentimos quando as nossas expectativas não se concretizam? A resposta universal é dor emocional. Todos experienciam algum grau de ira, ressentimento, desespero, pesar, desilusão, insatisfação ou traição quando o ambiente não se revela da forma que esperávamos. Para evitar a dor emocional, temos mecanismos de proteção, que operam tanto ao nível consciente como subconsciente. Por exemplo, ao nível consciente, racionalizamos, justificamos, arranjamos desculpas, reunimos informação para a neutralizar, ficamos irados ou simplesmente mentimos a nós mesmos.

Ao nível subconsciente, o processo para evitar a dor emocional é muito mais subtil e misterioso. A este nível, a mente pode bloquear momentaneamente a nossa capacidade de vislumbrar alternativas. Nessa batalha, os nossos mecanismos de proteção conseguem limitar a visão de alternativas, como se não existissem. Para ilustrar este fenômeno, recorro a um exemplo já referido: estamos num trade em que o mercado se movimenta contra nós. De facto, o mercado criou uma tendência na direção oposta àquilo que esperamos. Normalmente, não teríamos problema em identificar ou percepcionar este padrão, não fosse o facto de o mercado se estar a movimentar contra nós. Neste caso, o padrão torna-se irrelevante, invisível, porque é-nos difícil reconhecê-lo.

Para evitar a dor emocional, estreitamos o nosso foco e concentramo-nos na informação que nos protege dela, independentemente do quão insignificante ou limitada seja. Entretanto, a informação que indica claramente a presença de uma tendência e a oportunidade de transacionar na sua direção torna-se invisível. A tendência não desaparece na realidade, mas a nossa capacidade de a percepcionar sim. Os nossos mecanismos para evitar a dor emocional bloqueiam a nossa capacidade de definir e interpretar o que o mercado está a fazer. A tendência irá então permanecer invisível até o mercado inverter a nosso favor ou até sermos forçados a sair porque a pressão de perder dinheiro se torna insuportável. Só quando estivermos fora do mercado ou fora de perigo é que a tendência se torna para nós evidente, bem como todas as oportunidades de fazer dinheiro. Este é um bom exemplo de uma percepção tardia. Tudo o que noutras circunstâncias seria perceptível torna-se perfeitamente claro para nós após o acontecimento, quando já não há nada de que as nossas mentes tenham de se proteger.

Todos conseguimos desencadear mecanismos de proteção para superfícies feridas emocionais ou traumas firmemente implantados que não estamos preparados para enfrentar ou para os quais não temos as aptidões ou recursos adequados para lidar. Nestes casos, os nossos mecanismos naturais estão a prestar-nos um bom serviço. Pois frequentemente, os nossos mecanismos de defesa só nos protegem da informação que indica que as nossas expectativas não correspondem ao que o ambiente nos pode dar. É aqui que os nossos mecanismos de proteção para evitar a dor emocional nos prestam um mau serviço, especialmente enquanto traders.

Para compreender esta ideia, interrogue-se sobre quais são os sinais de mercado que para si representam uma ameaça. Serão ameaçadores porque o mercado expressa informação com carga negativa enquanto característica inerente à sua existência? Assim, a um nível mais elementar, aparentemente o que o mercado lhe dá a percepcionar são ticks para cima e ticks para baixo ou barras ascendentes e barras descendentes. Estes ticks para cima e para baixo formam padrões que representam modelos. Ora, estarão alguns destes ticks ou padrões por eles formados carregados com carga negativa?

De novo pode parecer que sim, mas da perspectivado mercado a informação é neutra. Cada tic para cima, tic para baixo ou padrão é apenas informação que nos indica a posição do mercado. Se alguma desta informação tiver uma carga negativa como uma característica inerente à sua existência, não iriam todas as outras pessoas que lhe estão expostas experimentar dor emocional?

Por exemplo, se você e eu sofrêssemos uma pancada de um objeto sólido na cabeça, provavelmente não haveria muita diferença no modo como nos iríamos sentir. Sentiríamos ambos dor física. Qualquer região dos nossos corpos que entre em contato com um objeto sólido arremessado com força suficiente fará com que sintamos dor física. Partilhamos a experiência porque os nossos corpos são constituídos basicamente da mesma forma. A dor física é uma reação fisiológica ao impacto violento com um objeto. A informação sob a forma de palavras ou gestos pelo ambiente externo, ou os altos e baixos do mercado, pode ser tão dolorosa como ser atingido por um objeto sólido; mas há uma enorme e importante diferença entre o funcionamento das nossas mentes. Pode haver alturas em que nos estejamos a proteger a nós mesmos de situações que tragam à superfície feridas emocionais ou traumas firmemente implantados que não estamos preparados para enfrentar ou para os quais não temos as aptidões ou recursos adequados para lidar. Nestes casos, os nossos mecanismos naturais estão a prestar-nos um bom serviço. Pois frequentemente, os nossos mecanismos de defesa só nos protegem da informação que indica que as nossas expectativas não correspondem ao que o ambiente nos pode dar. É aqui que os nossos mecanismos de proteção para evitar a dor emocional nos prestam um mau serviço, especialmente enquanto traders.

Para compreender esta ideia, interrogue-se sobre quais são os sinais de mercado que para si representam uma ameaça. Serão ameaçadores porque o mercado expressa informação com carga negativa enquanto característica inerente à sua existência? Assim, a um nível mais elementar, aparentemente o que o mercado lhe dá a percepcionar são ticks para cima e ticks para baixo ou barras ascendentes e barras descendentes. Estes ticks para cima e para baixo formam padrões que representam modelos. Ora, estarão alguns destes ticks ou padrões por eles formados carregados com carga negativa?

De novo pode parecer que sim, mas da perspectiva do mercado a informação é neutra. Cada tic para cima, tic para baixo ou padrão é apenas informação que nos indica a posição do mercado. Se alguma desta informação tiver uma carga negativa como uma característica inerente à sua existência, não iriam todas as outras pessoas que lhe estão expostas experimentar dor emocional?

Por exemplo, alguém está a insultá-lo com a intenção de o agredir emocionalmente. Da perspectivado ambiente, esta é informação com carga negativa. Mas sente os efeitos negativos pretendidos? Não necessariamente! Só se interpretar a informação como negativa é que a vai sentir como tal. E se esta pessoa o estiver a insultar numa língua que não entende, ou se estiver a usar palavras cujo significado não conhece? Sentiria a agressão pretendida? Não até estar na posse de uma estrutura que ajude a definir e compreender as palavras de forma depreciativa. Alguma pessoa que exprima amor genuíno está a projetar sinais com carga positiva. Digamos que a intenção por detrás da expressão destes sentimentos positivos é transmitir afeto, ternura e amizade. Mas há algo que nos assegure que a pessoa ou pessoas a quem esta informação com carga positiva é dirigida a irá interpretar e sentir como tal? Não, não há. Alguém com uma baixa autoestima ou alguém que tenha sido magoada nas suas relações, irá erradamente confundir uma expressão de amor genuíno com outra coisa qualquer, interpretando mal essa informação. No caso de uma pessoa com uma baixa autoestima, se acreditar que não merece ser amada daquela forma, irá achar difícil, se não impossível, considerar como genuíno ou real o que lhe está a ser oferecido. Alguém com sentimentos de mágoa ou desilusão acumulados, pode facilmente convencer-se de que uma expressão de amor genuína é extremamente rara, se não mesmo impossível e, provavelmente, interpretará a situação como alguém a querer alguma coisa ou uma tentativa de aproveitamento de si. Tenho a certeza de que não preciso continuar com mais exemplos. O que pretendo dizer é que cada um irá definir, interpretar e, consequentemente, sentir a informação que recebe da sua própria maneira. Não há um padrão da forma de sentir o que o ambiente está a oferecer – seja informação positiva, neutra ou negativa – simplesmente porque não há nenhuma estrutura mental padronizada para percepcionar informação.

Consideremos que, como traders, a todo o momento o mercado nos oferece algo para percepcionar. Num sentido, podíamos dizer que o mercado está a comunicar conosco. Se partirmos da premissa de que o mercado não gera informação com carga negativa como característica inerente à sua existência, podemos então colocar a seguinte questão: «O que faz com que a informação assuma uma qualidade negativa?». Por outras palavras, de onde vem exatamente a ameaça?

Se não vem do mercado, então tem de vir da forma como definimos e interpretamos os seus sinais. O modo de definir e interpretar a informação está associado àquilo que achamos que sabemos ou daquilo que acreditamos ser verdade. Se aquilo que sabemos ou em que acreditamos for de facto verdade – e não iríamos acreditar se não o fosse – então quando nos projetamos para algum momento futuro sob a forma de expectativa, esperamos naturalmente estar certos.

Quando esperamos estar certos, qualquer informação que não confirme a nossa versão da verdade torna-se automaticamente uma fonte de ameaça. Qualquer informação que tenha o potencial de ser ameaçadora também tem o potencial para ser bloqueada, distorcida ou a sua importância diminuída pelos nossos mecanismos de proteção para evitar a dor emocional. É esta característica particular na forma como as nossas mentes funcionam que nos pode realmente prestar um mau serviço. Como traders, não nos podemos dar ao luxo de deixar os nossos mecanismos afastar-nos do que o mercado nos comunica acerca das suas oportunidades para entrar, sair, aumentar ou reduzir uma posição, só porque segue um caminho que não queremos ou não esperamos. Por exemplo, quando observamos um mercado sem ter a intenção de entrar, alguma subida ou descida faz com que nos sintamos irados, desapontados, frustrados, desiludidos ou traídos? Não! A razão é que não está nada em jogo. Estamos simplesmente a observar informação que nos diz onde está o mercado naquele momento. Se os altos e baixos que observamos formarem algum tipo de padrão comportamental que identificamos, não o reconhecemos imediatamente? Sim, pela mesma razão: não está nada em jogo.

CNão está nada em jogo porque não há expectativa. Não projetou no futuro o que acredita, considera ou pensa saber sobre aquele mercado num determinado momento no futuro. Em resultado, não há nada para acertar ou errar, pelo que a informação não tem capacidade para ser ameaçadora ou ganhar carga negativa. Sem expectativa específica, não coloca limites ao comportamento do mercado. Sem barreiras mentais, estará disposto a percepcionar tudo o que aprendeu sobre a natureza e as formas como o mercado se movimenta. Não há nada para os seus mecanismos de proteção para evitar a dor emocional excluírem ou distorcerem para o proteger.

Nos meus workshops, peço sempre aos participantes para resolverem o seguinte paradoxo fundamental do trading: de que forma um trader tem que aprender a ser simultaneamente rígido e flexível? A resposta é: temos de ser rígidos nas nossas regras e flexíveis nas nossas expectativas. Temos de ser rígidos nas nossas regras para adquirirmos uma sensação de autoconfiança que nos proteja num ambiente com poucos limites, se é que tem alguns. E temos de ser flexíveis nas nossas expectativas para podermos percepcionar, com o maior grau possível de lucidez e objetividade, os sinais do mercado. Neste ponto, provavelmente nem é preciso dizer que o trader comum faz exatamente o oposto: é flexível nas regras e rígido nas expectativas. Curiosamente, quanto mais rígida é a expectativa, mais ele tem que adaptar, violar ou quebrar as suas regras para servir a sua relutância em desistir daquilo que quer a favor daquilo que o mercado está a oferecer.

Eliminar o risco emocional

Para eliminar o risco emocional do trading, é preciso neutralizar as expectativas quanto ao comportamento do mercado num dado momento ou numa determinada situação. Para o fazer, tem de estar disposto a pensar a partir da perspectivado mercado. Lembre-se que o mercado comunica com base em probabilidades. Do ponto de vista coletivo, a sua estratégia pode parecer perfeita; mas ao nível individual, cada trader que tem potencial para agir como uma força sobre o movimento de preços contraria o resultado positivo da sua estratégia. Para pensar em termos de probabilidades, temos de criar uma atitude mental coerente com os princípios fundamentais de um ambiente probabilístico. Uma atitude mental probabilística no contexto do trading consiste em cinco verdades fundamentais:

  • Tudo pode acontecer;
  • Para ganhar dinheiro não precisamos saber o que vai acontecer a seguir;
  • Há uma distribuição aleatória entre ganhos e perdas, num determinado conjunto de variáveis que definem uma oportunidade;
  • Uma oportunidade não é mais do que uma probabilidade maior da ocorrência de um acontecimento do que outro;
  • Cada momento no mercado é único.

Lembre-se que a sua vulnerabilidade para sentir dor emocional vem da forma como define e interpreta os sinais do mercado. Quando adota estas cinco verdades, as suas expectativas irão estar sempre em sincronia com as realidades psicológicas do mercado. Com as expectativas adequadas, irá eliminar a sua disponibilidade para definir e interpretar os sinais do mercado como ameaçadores e com isso neutralizar eficazmente o risco emocional do trading. A ideia é desenvolver um estado mental despreocupado que aceite finalmente se realmente acredita numa distribuição aleatória, compreendendo o facto de que há sempre forças desconhecidas a operar no mercado. Quando tornamos estas verdades partes funcionais do nosso sistema de convicções, a parte racional da nossa mente irá defender estas verdades do mesmo modo que defende qualquer outra convicção que tenhamos sobre a natureza do trading. Isto significa que, pelo menos a um nível racional, a nossa mente irá defender-se automaticamente da ideia ou do pressuposto de que sabe o que vai acontecer a seguir.

É uma contradição acreditar que cada trade é um acontecimento único com um resultado incerto e aleatório em relação a qualquer outro trade feito no passado e ao mesmo tempo acreditar que tem a certeza do que vai acontecer a seguir e esperar acertar. Se realmente acredita num resultado incerto, então também espera que tudo possa acontecer. Dito de outra forma, no momento em que deixa a sua mente agarrar-se à noção de que sabe, deixa de considerar as variáveis desconhecidas. A sua mente não o deixará agir, vendo outras alternativas. Se acredita que sabe, o momento deixa de ser único. Se o momento não for único, tudo passa a ser conhecido; ou seja, deixa de haver algo a descobrir. No entanto, no momento em que deixar de se preocupar com o que não sabe ou não pode saber sobre o mercado, em vez de percepcionar o que o mercado está a oferecer, fica vulnerável a todos os erros típicos de trading.

Por exemplo, se acredita num resultado incerto, alguma vez iria considerar a hipótese de abrir uma posição sem definir o risco previamente? Iria alguma vez hesitar em reduzir uma perda? E então os erros de trading, como agir precipitadamente? Como poderia antecipar um sinal que o mercado ainda não deu, se não estivesse convencido que iria deixar passar a oportunidade? Porque é que iria deixar uma posição ganhadora tornar-se perdedora, ou não ter uma forma sistemática de encaixar ganhos, se não estivesse convencido que o mercado flui indefinidamente na sua direção? Porque é que iria hesitar em abrir uma posição, a menos que estivesse convencido de que iria perder quando o mercado estava no seu ponto original de entrada? Porque é que iria quebrar as suas regras transacionando uma quantia demasiado elevada em relação ao seu capital ou tolerância emocional para suportar uma perda, se não estivesse absolutamente certo de que tinha algo assegurado?

Entre ganhos e perdas, poderia alguma vez sentir-se traído pelo mercado? Se lançasse uma moeda ao ar e acertasse no que iria sair, não iria necessariamente esperar acertar no lançamento seguinte simplesmente porque acertou no último e vice versa. Como acredita numa distribuição aleatória entre a sequência de caras e coroas, as suas expectativas estariam perfeitamente alinhadas com a realidade da situação. Iria certamente gostar de acertar e se acertasse seria ótimo, mas se estivesse errado não se iria sentir traído pelo lançamento da moeda, porque sabe e aceita que há variáveis desconhecidas em jogo que afetam o resultado. Desconhecidas significa algo que o nosso processo de pensamento racional não consegue identificar antes do lançamento da moeda, exceto aceitar completamente algo que não conhece. Em resultado, há poucas probabilidades, se é que há alguma, de sentir o tipo de dor emocional que surge quando nos sentimos traídos.

Como traders, quando estamos à espera de um resultado aleatório, ficaremos sempre um pouco surpreendidos com algo que o mercado faz, mesmo que tal corresponda exatamente à concretização da oportunidade que identificámos e acabemos com um trade ganhador. No entanto, esperar um resultado aleatório não significa que não possamos usar totalmente as nossas aptidões de raciocínio e analíticas para projetar um resultado, ou que não possamos tentar adivinhar o que vai acontecer, ou ter um pressentimento sobre algo. Podemos! Além disso, podemos até acertar num caso ou noutro. Simplesmente não podemos esperar estar certos. E se estivermos certos, não podemos esperar que algo que tenha funcionado da última vez, funcione novamente da próxima vez, embora a situação possa parecer exatamente a mesma.

Qualquer coisa que percepcionemos agora no mercado nunca irá ser exatamente igual a uma experiência anterior. Mas isto não significa que a sua mente (como uma característica natural do modo como funciona) não tente tornar as duas idênticas. Haverá semelhanças entre o momento presente e algo que sabemos do passado, mas essas semelhanças só nos dão algo com que trabalhar virando as probabilidades de sucesso a nosso favor. Se abordarmos o trading como se não soubermos o que irá acontecer a seguir, iremos contornar a inclinação natural da nossa mente para tornar o momento presente idêntico a alguma experiência anterior. Por muito pouco natural que pareça, podemos deixar alguma experiência anterior (seja negativa ou positiva) ditar o nosso estado de espírito. Se o fizermos, será muito difícil, se não impossível, percepcionar os sinais do mercado a partir do seu ponto de vista.

Quando abro uma posição, tudo o que espero é que aconteça algo. Independentemente da qualidade do meu sistema, não espero nada mais do que um movimento do mercado. No entanto, há algumas coisas que dou por certas. Sei que, com base no comportamento passado do mercado, as probabilidades de se movimentar na direção da minha posição são boas ou aceitáveis, pelo menos em relação ao que estou disposto a gastar para descobrir se o faz de facto.

Também sei, antes de abrir uma posição, quanto estou disposto a deixar o mercado movimentar-se contra a minha posição. Há sempre um ponto em que as probabilidades de sucesso são mínimas em relação ao potencial de ganho. Nesse ponto, não vale a pena gastar mais dinheiro para descobrir se o trade irá funcionar. Se o mercado chega a esse ponto sei, sem qualquer dúvida, hesitação ou conflito interno que irei fechar a posição. A perda não cria nenhum dano emocional, porque não interpreto a experiência negativamente. Para mim, as perdas são simplesmente o custo de fazer negócios ou o montante de dinheiro que preciso de gastar para atingir os trades ganhadores. Se, por outro lado, o trade se revelar ganhador, na maioria dos casos tenho a certeza em que ponto irei realizar os meus ganhos (se não tiver a certeza, certamente tenho uma ideia bastante concreta).

Os melhores traders vivem no momento presente porque não há stress. Não há stress porque não está nada em risco a não ser o montante de dinheiro que estão dispostos a gastar num trade. Não se esforçam por estarem certos ou por estarem errados; nem para provar nada. Se e quando o mercado lhes disser que as suas convicções não estão a funcionar ou que é altura de encaixar ganhos, as suas mentes não fazem nada para contrariar essa informação. Aceitam completamente o que o mercado lhes está a dizer e esperam pela oportunidade seguinte.


Conclusão

No Capítulo 7 do livro “Trading in the Zone” de Mark Douglas, o autor explora a importância de ter uma mentalidade adequada para o sucesso no trading. Douglas enfatiza que os traders devem desenvolver uma atitude mental que os permita reagir ao mercado de maneira objetiva e sem emoção. Ele discute como a maioria dos traders luta contra o mercado e tenta impor suas vontades, o que muitas vezes leva a decisões impulsivas e perdas.

Em vez disso, ele aconselha os traders a aceitarem o risco inerente ao trading e a se tornarem “amigos” do mercado. Ao fazer isso, eles podem reagir de maneira mais eficaz às mudanças no mercado e tomar decisões de trading mais informadas e menos emocionais. Douglas também discute como os traders podem superar os obstáculos psicológicos que impedem o sucesso no trading, e oferece estratégias para alcançar um estado de “zona” onde eles podem operar com máxima eficiência e eficácia.


A Obra de Mark Douglas

Mark Douglas é amplamente reconhecido no mundo do trading por seus insights sobre a psicologia dos traders e por seus ensinamentos sobre como abordar o mercado com uma mentalidade disciplinada e orientada ao sucesso. Ao longo de sua carreira, Douglas publicou diversos livros que se tornaram leituras essenciais para traders de todos os níveis de experiência. Aqui está uma lista dos seus livros mais influentes, juntamente com breves resumos:

               
  1. “Trading in the Zone: Master the Market with Confidence, Discipline and a Winning Attitude” (Negociando na Zona)
    • Resumo: Este é talvez o livro mais popular de Douglas. Ele aborda os principais obstáculos psicológicos enfrentados por traders e fornece soluções para superá-los. Douglas destaca a importância de desenvolver uma mentalidade disciplinada e focada em probabilidades, ao invés de se concentrar em ganhos ou perdas individuais.
  2. “The Disciplined Trader: Developing Winning Attitudes” (O Trader Disciplinado)
    • Resumo: Neste livro, Douglas explora a psicologia do trader e a necessidade de desenvolver atitudes vencedoras para ter sucesso nos mercados. Ele aborda as emoções comuns que podem sabotar um trader e oferece estratégias para gerenciar e superar esses desafios mentais.
  3. “The Little Book of Trading Performance”
    • Resumo: Um guia mais curto e conciso, este livro destila a sabedoria de Douglas em dicas práticas e insights sobre o desempenho no trading. Ele oferece conselhos sobre como manter a consistência, superar obstáculos psicológicos e otimizar o desempenho geral.

Os livros de Mark Douglas são uma fonte inestimável de sabedoria para qualquer trader que deseja melhorar sua abordagem mental ao trading. Eles oferecem não apenas técnicas e estratégias, mas também uma compreensão profunda da natureza humana e de como superar os desafios internos que todos os traders enfrentam.


Sempre é Importante Lembrar

Operar no mercado financeiro não se resume a análises e previsões. É primordial possuir um controle emocional robusto ao realizar suas operações. A gestão de risco é um elemento vital, pois envolve escolher o tamanho apropriado para as posições, determinar pontos de stop loss e estipular metas lucrativas. Nunca esqueça da volatilidade intrínseca aos mercados e que enfrentar perdas é parte integrante da trajetória do trader. Esteja sempre aberto a novos métodos, realinhe estratégias quando necessário e busque atualização constante. Com foco, disciplina e resiliência, você potencializará suas chances de se destacar como um trader lucrativo.


A Melhor Forma de Aprender Sobre Trading

Uma das melhores maneiras de aprofundar seus conhecimentos sobre trading é, sem dúvida, através da leitura de livros especializados no assunto. Os insights e experiências compartilhadas por autores renomados podem ser fundamentais para o seu desenvolvimento. E, além dos livros, aproveite os recursos oferecidos pelo canal “Com Lucro”, que disponibiliza informações valiosas, vídeos e aulas voltadas para traders de todos os níveis.


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